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Faltam pilotos para a demanda de helicópteros no pré-sal

03/10/2011

Frota vai dobrar e país terá que formar mais 700 profissionais em apenas 5 anos. A exploração de petróleo no pré-sal pode esbarrar num gargalo que vem dos ares. Estima-se que a demanda por helicópteros que transportam passageiros até as plataformas em alto-mar (offshore) dobre em cinco anos, quando a mais promissora fronteira petrolífera brasileira estará em plena operação. Hoje, são cerca de 140 aeronaves, segundo a Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros. Com isso, a tripulação de 700 pilotos que atuam no segmento terá de crescer na mesma proporção. O que poderia ser uma oportunidade de emprego, porém, pode se tornar um problema por duas razões: tempo e custo de formação de mão de obra, o que já está levando o Congresso a analisar a possibilidade de importação de pilotos. Hoje, só brasileiros podem exercer a profissão. Os campos de petróleo do présal ficam a até 300 quilômetros da costa. Para voar trajetos tão longos — hoje a distância média das plataformas em alto-mar é de cem quilômetros — os helicópteros precisam ser maiores, de modo a transportar no mínimo 15 pessoas sem necessidade de parar para reabastecer por ao menos quatro horas. Atualmente, o único fabricante de helicópteros no país, a Helibras, não produz aeronaves de grande porte. A expectativa é que só em 2012 a empresa possa atender as especificidades do pré-sal. Empresas importam helicópteros de grande porte. Enquanto isso não acontece, empresas como Líder e BHS, as duas maiores operadoras de voos offshore no Brasil, resolvem a questão importando helicópteros. Juntas, elas investiram mais de US$ 300 milhões desde 2009 na compra de 16 aeronaves — entre elas o S-92, da americana Sikorsky — capazes de voar até as plataformas do pré-sal. O problema é que não há profissionais para pilotá-las em quantidade suficiente. Na BHS, por exemplo, apenas sete dos 140 pilotos são habilitados para comandar o S92, o que levou a empresa a trazer seis instrutores de fora para qualificar sua tripulação. -Esses equipamentos são modelos novos na indústria e nunca haviam operado comercialmente no Brasil. Isso nos obrigou a trazer instrutores estrangeiros — disse o diretor executivo da BHS, Décio Galvão. Com cerca de oito toneladas e avaliado em US$ 27 milhões, o S92 é praticamente um avião. É tão grande — tem capacidade para 18 passageiros, além da tripulação — que há até comissários de bordo nos voos. Para pilotá-lo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) exige, entre outros, a carteira de piloto comercial, obtida após duzentas horas de voo, e um curso de navegação por instrumentos, no qual se aprende a pilotar guiando-se por satélite. Na prática, porém, o rigor é bem maior. Clientes como a Petrobras exigem dos comandantes três mil horas de voo, o que dificilmente é atingido em menos de cinco anos. -Em caso de aumento expressivo da demanda, pode não haver pilotos suficientes, devido ao longo prazo de formação — diz Júnia Hermont, diretora superintendente da Líder. -Estamos formando uma nova geração de pilotos agora. Mas, para atender o nível de exigência dos clientes, eles deveriam ter começado há mais tempo — corrobora o chefe de pilotos da BHS, Sérgio Mauro Bomfim Praça, há 40 anos no mercado. Há ainda mais um detalhe: das três mil horas de voo, 500 devem ter sido feitas em helicópteros de porte equivalente ao que o profissional vai pilotar. Como os equipamentos grandes eram raridade no Brasil, a maior parte dos pilotos brasileiros, mesmo os experientes, não podem comandar os novos S-92. É o caso do piloto Paulo Afonso Coutinho, de 46 anos, que há 15 anos faz voos offshore em helicópteros de médio porte. Agora, está sendo treinado pela BHS para comandar o S-92: — Fiquei um mês nos EUA fazendo um curso teórico. Uma das tentativas de superar esse gargalo é o projeto de lei 6.716/2009, em tramitação no Congresso. Seu relator, o deputado Rodrigo Loures (PMDB/PR), inseriu uma emenda no projeto que, na prática, permitirá a importação de pilotos, ao estender o tempo de permanência desses profissionais no Brasil para cinco anos. O projeto ainda vai a plenário na Câmara, mas já causa polêmica. Mansur, da associação de pilotos, frisa que, caso os profissionais estrangeiros tenham permissão para trabalhar no Brasil, a legislação tem de assegurar que eles paguem impostos no país. Para Galvão, da BHS, a solução passa pela flexibilização da experiência mínima exigida pelos clientes.

Fonte: Yuri - O Globo

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